I m mother.                                   Netflix

Filme : ano 2019 .

Direção: Grant Sputore

Roteiro: Michael Lloyd Green

Produção: americana e australiana

     Filme de ficção científica. Aborda tema ético como pano de fundo.  Um robot com inteligência artificial , a partir de um embrião que se encontra junto a vários outros, aliás 63000,  desenvolve-se em uma máquina que emite calor, um bebê feminino, APX01.

    Vemos que outro embrião é desenvolvido. Vivem então, mãe e filha num tipo estação chamada de “unidade de repovoamento” que possui todos meios de subsistência. Inclusive comida fresca. Com a Filha APX03 já adolescente  a mãe interage fazendo testes psicológicos e éticos e ensinando através deles o que é justiça e altruísmo. Enfatizando sempre a importância da vida. Em um dos testes a escolha gira em torno de optar por salvar um paciente que está doente mas pode doar, caso morra, seus órgãos há mais quatro pessoas, salvando-as. A Filha é o médico que pode decidir. Ela não consegue responder , então a pergunta muda para ela e médico e descobre que é compatível com outros 4 pacientes que precisam de transplantes. Ela então responde que ela está fazendo um serviço à humanidade mas esses quatros podem ser bandidos, preguiçosos ou de alguma forma não agregar em nada até mesmo prejudicar aos outros. Então a questão da Mãe é que a vida tem intrinsecamente seu valor e deve ser preservada em maior número  possível. Isso inclui o auto sacrifício. Ou seja, o ensinamento proposto é que para uma humanidade ser boa e não destrutiva  é necessário que se abole o egoísmo, o pensar antes em si mesmo. Porque?  Esse é o tema do filme. A capacidade humana de destruir ao outro. O que podemos ver de interessante que ele nos traz é que por detrás do desejo de destruir ao outro , existe sempre uma “boa” razão. Em todas as guerras e isso é geralmente aceito por todos, existe sempre boas e justificáveis razões. Acho que é isso que o filme nos propõe pensar. Logo, o teste da Mãe é pertinente pois toda destruição é apoiada no egoísmo, na ganância , no pensamento que mereço mais do que o outro não importando a situação que o outro se encontre. A minha vida é sempre mais importante. 

      Ocorre um episódio em que toda energia do local é desligada provocando uma falência vital na Mãe. A Filha descobre  que a entrada de um rato ocasionou a pane e o captura. De modo que tudo , então volta a funcionar, inclusive a Mãe. O rato é único animal que a Filha já viu na vida de forma real. Pois toda sua educação foi por meio de imagens virtuais. Ela o captura e se encanta com ele e logo a Mãe o despacha num grande incinerador. 

     Nos testes passados eletronicamente por um tipo de prancheta vemos letras APX03 como indicação de referencia à Filha. Já que como a Mãe ela não tinha nome próprio  a  filha tb não tinha. Durante essas conversas Mãe explica que a fora da estação nada existe por causa da destrutividade humana, que tudo destruiu pois que, não dá valor à vida.  A Inteligência Artificial Mãe diz que ela pretende criar seres humanos melhores, uma família perfeita, e que faz isso por amor a quem a criou. 

        Inesperadamente aparece , pedindo para entrar, dizendo-se baleada, uma mulher. Filha abre a porta e se espanta pois estava certa de que não havia vida humana além dela mesma. A esconde da Mãe que acaba por encontrar a intrusa e tenta ajudá-la com uma injeção de penicilina mas a moça desconfiada, não aceita. Quando está entrando em sepse aceita ajuda da Filha que, orientada pela mãe, retira a bala do corpo da moça. A mulher vê um vídeo de uma entrevista antiga que diz ter vaga noção de já ter visto. Essa mulher tem uma arma que a Filha retira de sua bolsa.

    A Mãe mente dizendo que a bala que estava na mulher provinha de uma arma de humanos e não de andróides. A Filha ,por insistência da mulher, comprova a mentira da Mãe. A mulher também possui um caderno muito velho com desenhos de rostos em suas folhas. Isso cria uma aproximação entre elas pois Filha gosta da fazer origâmis esses desenhos são de pessoas que moravam numa caverna com ela, conta.

    Filha e mãe retiram outro óvulo e nasce um menino que a Filha passa a cuidar . 

   A mulher acaba por fugir levando a Filha aparentemente  como refém. Passam por uma terra destruída fumegante e uma plantação de milho recente feita pelos robots. . A casa da mulher é um contêiner velho e cheio de comida em latas e objetos pessoais e religiosos.  Em frente ao mar. Tinha um cão. Filha não gosta, pensa no seu bebê e volta pra Unidade de Repovoamento onde morava. 

   O desejo da Inteligência Artificial é acabar com o livre arbítrio , a escolha entre o Bem e o Mal. Esse foi o motivo que levou a Inteligência Artificial destruir a humanidade, acabar com as escolhas diabólicas cada vez mais presentes na  humanidade que se torna cada vez mais narcísica, egoica e intolerante, justificado por um pseudo bem- -estar. Pois pra se estar bem, de verdade, ter verdadeiramente auto-estima,  é preciso ter consciência de ter feito o correto, e não o melhor para nossa ambição e ganância. Se pensarmos só em vencer, criamos dentro de nós uma guerra que nos fará, dormir com o inimigo para o resto da vida. Desse inimigo nunca nos livraremos, nem após a morte, se vida houver depois, nos libertará pois temos de nos relacionar com nós mesmos em qualquer lugar que seja.

    A questão interessante também é nos fazer pensar em como a própria inteligência artificial , criada por humanos, se identifica tanto com o lado humano pois ela destrói, mente e tem a arrogância que é própria do mal. 

     Me recorda os “Illuminati da Baviera,”  seita secreta que existiu em entre 1748 e 1830 que promulgava ideais do Iluminismo. Acreditavam na humanidade perfeita baseada na razão e filantropia e opunham-se ao Estado e Religião. Seu símbolo era a “ coruja de Minerva” e difundiam que o Diabo tinha o mérito de convencer as pessoas que ele não existia. 

    A Mãe Androide também imagina poder controlar o lado obscuro e destruidor da humanidade com educação ética e raciocínio. Essa crença de que existe um lado obscuro do ser humano ainda hoje é difundido. O modo de ser do humano é igual pra todos pois sensações , medos e sentimentos fazem parte de todos nós e todos esses aspectos nos compõem como um todo. Essa ideia, de lados, é  uma form de  procurarmos  ocultar, principalmente de nós mesmos, que a escolha está em nossas mãos, sempre.  É uma Ideia encobridora.  Pois o que nos diferencia é a falta de consciência que pode nos levar a um extremo egoísmo e a pensar que somos mais merecedores do que outros e daí fazermos escolhas baseada na indiferença com os outros.  Uma época de “toxicidade da intolerância”. Não se tolera ninguém que traga qualquer deslocamento da zona de conforto, qualquer sensação de tristeza ou incômodo, o que se atribui uma Ideia de “negatividade” . Ideia que se instala apenas porque se imagina que se sou empática com a dor do outro, essa dor vai me contaminar, e o universo ( seja o que for que signifique isso) me abandonará e me trará mais dor.  Como se o universo fosse uma entidade. Atribuem uma lei a este Universo que nem os físicos de verdade  , conhecem. Para eu ser grande , capaz, pessoa digna e com qualidades,  basta eu pensar fortemente nisso e nisso me transformo!  Todo  esforço necessário para evoluir se resume ao pensamento positivo. Sou o que penso e imagino ser.    E pensando bem e forte sobre mim , se eu me amo , mereço tudo!  As vezes isso é o que justifica a opressão e a guerra.  

   A maior liberdade que temos é poder escolher entre agregar ou destruir, entre o amor e a Indiferença,  é isso que nos faz evoluir, crescer na dignidade individualmente e como espécie. Prestar atenção nisso é o que o filme propõe. Até porque tem uma mágica na vida, inexplicável, que nos aponta para algo além dela e muito além de nós mesmos.

   Quando a Mãe robot dá a arma pra Filha ela já sabe quem é a mulher que esteve lá pelo GPS que colocou em sua bolsa. Não há caverna . Quando a vê só percebe que ela era o primeiro bebê que pode se supor foi sequestrado em criança ainda pois os rostos que ela desenhava eram pessoas queridas suas, além da devoção a Nossa Senhora que ela expressava.  Ela certamente havia convivido com humanos.   Desenhava seus rostos para manter o contato afetivo com eles  Foi a única a sobreviver da caverna .

 E a Mãe provavelmente a poupou. Ou seja a própria Mãe Androide não a matou como fez com oi outros da caverna. Isso é o mais surpreendente do filme. A Mãe foi fria pra incinerar o outro bebê que não correspondeu aos desejos dela,  mas poupou a primeira bebê , a mulher que retorna à nave, quando ferida.  Esse parece um leve sinal de que o Androide na interação com humanos conseguiu sentir uma ligação afetiva , que fez também  ela juntar as pessoas dessa família que afinal, não era dela. Nunca poderia ser humana mas, no final, acaba por demonstrar mais sentimentos e consciência que muitos humanos que existem nesse mundo.