Filme: ADAM
Filme de 2019
Produtor: Nabil Ayouch
Prêmio : Um Certo Olhar , melhor direção
Roteiro: Maryam Touzani e Nabil Ayouch
Filme se passa em Marrocos, Casablanca e começa com uma moça grávida , Samia , procurando emprego num cabeleireiro. Quando pede para dormir no salão é imediatamente dispensada. Assim, sem lugar pra ficar, com uma gravidez já adiantada, ela vai de porta em porta procurando qualquer tipo de trabalho. Mas, num lugar pobre nada consegue. Escolhe uma casa onde funciona uma padaria e mora uma menina simpática e acolhedora de uns 10 anos, Warda é seu nome. Warda mora só com sua mãe . Samia senta-se em frente à essa casa pois foi a única que , de alguma forma, lhe pareceu mais amorosa. Ali fica até ser convidada a dormir.
Através de um telefonema pra casa sua, percebe-se que seu pai trabalha com instalação de antenas e que ela afastou-se de casa para esconder sua gravidez.
Samia acaba por ficar com a família Warda e sua mãe. E passa a ajudá-la a vender mais pães e pastéis. Abla, mãe de Warda é uma mulher cansada, dura e que depois de sua viuvez caiu em depressão. Samia é de outra classe social a acaba por trazer mudanças nos hábitos da família, como por exemplo o uso dos talheres nas refeições e até mudanças na massa do pão e doce que Abla vende.
Samia percebe a tristeza de Abla e a ajuda a viver a dor de ter sido impedida de viver seu luto com a morte de seu marido. Conseguindo expressar sua dor e raiva ,Abla, afinal, consegue voltar sentir a alegria perdida e a expressar carinho por sua amada filha.
Filme marroquino que nos relata parte da vida de duas mulheres. E a relação delas com o casamento e a maternidade. Nos fala de questões próprias do mundo feminino.
Abla fala de seu sofrimento, de não poder viver a dor do luto por não ter direito a unir seu corpo ao do marido morto , ao abraço derradeiro, ao beijo apaixonado como era Abla com seu marido e de expressar sua dor para o mundo. Foi impedida de chegar perto dele. Lá as mulheres não podem se aproximar do corpo do morto, só os homens e, além disso, este teve de ser sepultado, às pressas, antes da hora da oração, como manda sua religião. Fatores que impediram o processo de luto de Abla.
E vemos o sofrimento de Samia de ter de passar pela dor da separação de um filho que não poderia criar, de não ter direito ao seu corpo, de não poder escolher a interrupção da gravidez.
Sofrimentos femininos impostos pela arrogância, insensibilidade , e autoritarismo masculino. Sofrimentos evitáveis , desnecessários. Drama de outras mulheres desse mundo patriarcal. Sofrimentos que até podem ser suportados mas nunca superados.
Longe de ser uma questão de Marrocos. É uma questão do mundo!!!
Não importa se as mulheres cheguem ou não à presidência de um país, empresa ou, se cheguem a ganhar mais dinheiro do que os homens. Todas seremos ainda subjugadas enquanto não tivermos o direito de decidir sobre nosso próprio corpo. Só quando o corpo feminino não for mercadoria dos homens. Quando isso ocorrer nesse mundo, aí , sim, podemos falar em igualdade entre homem e mulher. Filme mostra isso de forma contundente e sensível.
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