O Homem Que Vendeu Sua Pele

                          O Homem que Vendeu  sua Pele


         

         Ano: 2020.  Portugues/ ingles

     

         Direção: Kaouther Ben Hania


         Indicações: Oscar de melhor filme Internacional  2021

                             Orizzonti Award forBest Film             2020







         Esse filme é a história sobre um homem refugiado da Síria , em guerra. Ele consegue chegar ao Líbano e ali ele encontra um artista que propõe a ele uma forma de passe livre pelo mundo e dinheiro para viver com luxo mediante o compromisso de se apresentar em suas exposições, como obra de arte.   Ele anseia ir para a Alemanha se encontrar com uma  ex namorada, de quem ainda gosta muito e que casou-se com um diplomata.  Além , claro , de salvar a própria pele. Portanto, aceita dar a pele de suas costas como tela para o desenho/tatuagem do artista.

         Ele então viaja pelo mundo expondo suas costas. Onde está tatuado um visto Schengen.

         Esse visto surge de um tratado firmado por vários países desenvolvidos que asseguram dessa forma a entrada de estrangeiros de outros países pelo prazo máximo de 90  dias evitando  a imigração desses estrangeiros que após esse prazo tem sua permanência neles proibida. Um sírio fugitivo de um Estado em guerra  nunca conseguiria obter esse visto.  

          Esse filme nos propõe a reflexão sobre como estamos estratificados pelo mundo onde a vida humana possui valor diferente em diferentes lugares. E como também valorizamos mais a criação humana do que a criação divina ou da natureza . 

         Fica claro que  atribuímos um valor maior à arte , criação do homem, à própria natureza em confronto à criação de Deus.  O desenho na pele é o que vale e não a pele. A natureza parece não alcança o esplendor do belo e do bom como faz a arte do homem.  O equilíbrio e a harmonia existente no complexo processo da natureza não convence a percepção humana de possuir qualidades que justifiquem a apreciação suprema.

        Tendo em vista o fato de que apesar de toda a complexidade e beleza que pode se perceber na natureza ela, ainda assim, não alcança o status atribuído à arte. Podemos pensar que falta à natureza aspecto que é essencial no reconhecimento do belo. 

        A natureza para os humanos, foi historicamente motivo de necessidade de controle. Desde sempre fomos sujeitos às intempéries do clima e dos perigos oferecidos pela natureza.  A violência que o cosmos pode nos submeter. Animais visíveis e invisíveis nos ameaçam á vida. Plantas que ingeridas podem nos matar.  Enfim, a natureza não é sempre bem vista pois, nos dá medo. Mesmo a nossa natureza. Podemos ser monstruosos na nossa violência e agressividade, oferecendo perigo uns aos outros. 

        A arte, ao contrário é a realização do bem, do belo. É a harmonia e a simetria. Arte é um sonho bom. É prazer tal é a relação equilibrada entre seus elementos, nos captura. A proporção, a elegância desses nos faz bem, nos consola, traz paz dentro de nós provocando sensação extrema de um calmo prazer, a arte é boa, é envolvente. A arte não sobrevive a sombra de maldade, de erro. A arte é o mais próximo à perfeição que podemos ver ou sentir.   A arte nos faz sentir como criadores e nos dá a ideia  de  nos assemelharmos de fato à Deus.   Estreitando , assim , nosso relacionamento com ele. Nos traz a arte, a ilusão de que podemos estar perto ou mesmo tocar Deus. Ela nos dá um experiência sublime de um mundo perfeito.  E, assim, atribuímos  à  coisas,  valores humanos . Sombras se tornam reais,  referência ao mito da caverna de Platão.






          Mas obviamente viver como um objeto, mesmo sendo valorizado no mundo, não é condição digna para o ser humano, é desumano. Isso pode nos remeter à situação muito comum da mulher usada como representante do belo e exposta em propagandas para venda de produtos estando associadas a estes também como um produto a ser consumido. 

          Interessante esse filme surgir do mundo islâmico,  parte do mundo que mais trata a mulher como propriedade ou objeto. 

         O final do filme é surpreendente. Sam Ali ,o protagonista, que é um homem justo, correto e  manso; reconquista a sua ex namorada e forja sua própria morte cometida pelo Estado Islâmico e retorna para sua família agora rico, e  conseguindo uma vida digna, em seu país .  Traz uma ideia nacionalista.  Demonstrando que existem boas pessoas em todos os lugares , mesmo naqueles lugares em que as pessoas sofrem  por anos opressão e violência de guerra e que apesar das dificuldades , são os vínculos afetivos que promovem um pertencimento necessário para o ser humano nesse mundo.





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