MARAHAJ

MARAHAJ.  .                    Netflix.            Português/ english

     

 Filme: baseado no livro entitulado.Maharaj de Saurabh Shah

 Direção Siddharth P. Malhortra .   Índia 

 Ano: 2024

        O filme se passa em Bombaim ( atual Mumbai) . Maior cidade da Índia. É baseado numa história real de um processo judicial ocorrido em 1862. O indiciado é um líder religioso , o mais proeminente. Os líderes religiosos, na Índia, tem um grande poder . Importante entendermos que a civilização Índiana tem forte influência das religiões, especialmente as crenças e tradições védica e Brahmânica. E , atualmente também a Islâmica . A filosofia hindu é uma forma de concepção da sociedade dividida em castas que é uma tradição milenar na cultura indiana,  com costumes próprios sempre baseados nas diferenças sociais. 

         Enfim, uma tradição imposta pelo líder religioso mais influente do local, era, ele , o líder , ter relações sexuais com as moças  virgens ,  noivas, às vésperas do casamento delas. Com permissão de venda de ingressos para assistir pelas janelas do quarto onde ocorreria o evento. As noivas não  eram obrigadas mas sentiam-se muitas vezes envaidecidas  por serem escolhidas para esse ritual. Afinal, era como se fosse o próprio Deus, já que o líder religioso era o seu representante na terra.

           É um jornalista, Karsan Das  que descobre que sua noiva, apesar de ter estudado, submeteu- se a vontade de Marahaj.  Revoltado  contra a anuência de Kishore  a essa tradição, rompe seu casamento. Ele demonstra que apesar de sua crença não acredita nos dogmas de castas tampouco pois pega, num determinado momento, um pedaço de comida de um  “impuro”, casta mais baixa de todas, embora ele seja um Brâmane. 

        Apesar dessa visão crítica da religião e do fato de ser uma pessoa de cultura, reage à atitude da noiva com muita raiva não perdoando e rompendo o compromisso.     

       Kishori entende seu erro e  pede perdão ao noivo mas o sentimento de ter sido traído toma conta da vaidade dele, que não a perdoa e ainda a humilha, dizendo que apesar dos estudos continua a ser uma simplória E a ofende de várias formas.

      Karsan está inflexível, não entendendo que ela foi criada nessa sociedade e tem vínculo com as tradições e a família. 

       Enfim, ele reage com a mesma arrogância e superioridade que os homens tipo o chefe religioso, como homem orgulhoso, arrogante, sem querer nem mesmo ouvi-la.           

       Kishori reage também sucumbindo ao poder masculino e não suportando a rejeição e a depreciação que ele faz dela. E acaba por se matar deixando uma carta para que ele a vingue. Ela diz a irmã que ela o perdeu pra sempre e esse é o motivo para se matar. Afinal o que resta da mulher se não se casar é ainda rejeitada pelo noivo? Ela também se deprecia, ela também não vê mais valor nela mesma.  

        Com a morte da noiva, claro também movido por culpa inconsciente ou não ,decide lutar pelo o fim dessa “tradição, violação”. E consegue levar o homem de maior poder na comunidade ao tribunal inglês, por causa do abuso de poder .

       Sempre surgirão na humanidade pessoas para lutar pela verdade, pelo correto e pelo bem. Mesmo que esta verdade seja contra as leis, tradições, religiões, crenças pois essas, muitas vezes tendenciosas, foram criadas pelo homens que são falhos e muita vezes perversos e criam meios para prejudicar os direito à vida ao próximo. Mas a verdadeira  justiça e verdade  que partem dos princípios éticos e provém da dignidade tem em  si a força do que é realmente correto, divino. E sempre terá quem as promova, de alguma maneira. No mundo isso é uma luta.

      Costumes distantes da nossa cultura parece-nos muito estranhos. Não me refiro à violência sexual mas à submissão feminina ao desejo masculino. Mas se olharmos  mais de perto., vemos que não faz tanto tempo assim que aqui no ocidente as mulheres muitas vezes se envaideciam por serem desejadas. Ser objeto do desejo masculino era um dos objetivos femininos senão mesmo , o mais importante.  As revistas para os homens confirma. A competição entre as mulheres , a deslealdade entre amigas e ver a outra como uma rival foi algo sempre muito comum. Encontramos o mesmo princípio que tanto nos choca no filme. Princípio de servir ao desejo do homem. Se sentir especial por ser escolhida pelo homem-deus, poderoso. Percebe-se que muitas precisam, ainda, da  companhia masculina para se sentirem com valor próprio. Suas qualidades não estão dentro delas mesmas, mas vem do fato de estarem com alguém.  Não há necessidade de nenhuma tradição ou preceito religioso. De bom grado , muitas não lavam os pés, mas se submetem a coisas muito mais indignas. E, pior , ainda se sentem vitoriosas pois, o mais importante, é ser escolhida.

       Seja em que parte do mundo for, a mulher precisa se construir como tal, pois como diz Lacan: “ A mulher não existe”.

The film is set in Bombay (now Mumbai). India's largest city. It's based on a true story of a court case that took place in 1862. The accused is a religious leader, the most prominent. Religious leaders have great power in India. It's important to understand that Indian civilisation is strongly influenced by religions, especially Vedic and Brahmanical beliefs and traditions. And currently also Islam. Hindu philosophy is a way of conceiving society divided into castes, which is an ancient tradition in Indian culture, with its own customs always based on social differences. 

         Finally, a tradition imposed by the most influential religious leader of the place was for him, the leader, to have sex with virgin girls, brides, on the eve of their wedding. He was allowed to sell tickets to watch from the windows of the room where the event was to take place. The brides were not obliged to, but often felt elated to be chosen for this ritual. After all, it was as if they were God himself, since the religious leader was his representative on earth.

           a journalist, Karsan Das, who discovers that his fiancée, despite having studied, has submitted to the will of Marahaj.  Angered by Kishore's acquiescence to this tradition, he breaks off their marriage. He demonstrates that, despite his beliefs, he doesn't believe in caste dogmas either, because at one point he takes a piece of food from an ‘impure’ person, the lowest caste of all, even though he is a Brahmin. 

        Despite this critical view of religion and the fact that he is a person of culture, he reacts to his fiancée's attitude with great anger, not forgiving her and breaking off the engagement.     

       Kishori understands her mistake and asks her fiancé for forgiveness, but the feeling of having been betrayed takes over his vanity and he doesn't forgive her and humiliates her, saying that despite her studies she is still a simpleton.

      Karsan is adamant, not realising that she was brought up in this society and has ties to traditions and family. 

       In short, he reacts with the same arrogance and superiority as the men like the religious leader, as a proud, arrogant man who doesn't even want to listen to her.           

       Kishori also reacts by succumbing to male power and not being able to stand his rejection and belittling of her. She ends up killing herself, leaving a letter for him to avenge her. She tells her sister that she has lost him forever and that is the reason she killed herself. After all, what does a woman have left if she doesn't get married and is still rejected by her fiancé? She also belittles herself, she no longer sees any value in herself.  

        With the death of his fiancée, of course, also driven by unconscious guilt or not, he decides to fight for an end to this ‘tradition, rape’. And he manages to take the man with the most power in the community to court in England for his abuse of power.

       There will always be people in humanity who fight for the truth, for what is right and for what is good. Even if this truth goes against laws, traditions, religions and beliefs, because these are often biased and were created by men, who are flawed and often perverse and create ways to harm their neighbour's right to life. But true justice and truth, which stem from ethical principles and come from dignity, have within them the strength of what is truly right and divine. And there will always be those who promote it in some way. In the world this is a struggle.

       Customs far removed from our culture seem very strange to us. I'm not talking about sexual violence, but female submission to male desire. But if we take a closer look, we can see that it wasn't that long ago that women in the West often took pride in being desired. Being the object of male desire was one of the female goals, if not the most important.  Men's magazines confirm this. Competition between women, disloyalty between friends and seeing the other as a rival was always very common. We find the same principle that shocks us so much in the film. The principle of serving a man's desire. Feeling special for being chosen by the powerful man-god. We realise that many women still need male companionship to feel worthwhile. Their qualities don't lie within themselves, but come from being with someone.  There is no need for any tradition or religious precept. Many don't willingly wash their feet, but submit to much more undignified things. Worse still, they feel victorious because the most important thing is to be chosen.

       Wherever she is in the world, a woman needs to construct herself as such, because as Lacan says: ‘Woman does not exist’.