DOIS. ESTRANHOS

 DOIS    ESTRANHOS


Filme : EUA , 2020              Netflix      /     ingles


Roteiro: Travon Free,  Martin Desmond Roe


Prêmio: vencedor “Oscar” de melhor curta metragem.





      Filme inicia  com um homem jovem,  que acorda na casa de uma garota com quem esteve junto na noite anterior  . É um homem preto que pretende ir à sua casa para cuidar de seu cachorro antes de ir ao trabalho. Toma café com a moradora do apartamento e sai apressado.  Na saída, à rua,  esbarra acidentalmente em outro homem. Cárter, após esse evento , acaba por chamar a atenção de um policial que estava ali, por perto,  e a partir daí, uma sucessão  de mal- entendidos  acaba por provocar a sua morte.   Eventos acidentais e cotidianos., aparentemente sem grande importância,  terminam em um surto de violência injustificada contra Cárter.  

       Filme nos apresenta assim uma situação onde a violência do policial contra Cárter, claramente não é proporcional aos eventos.  A inocência associada à impossibilidade real de defesa  da vítima,  impacta o  expectador.  A injustiçada morte de um jovem que tenta chegar em sua casa , para ver seu cão, choca.  Violência que não é  consequência à uma reação aos fatos provocados por Carter  mas  é  desencadeada por sua aparência física. O que é mostrado é a força destrutiva  que a aparência do jovem move no policial  branco que o mata.  Uma diferença que marca um outro ser humano, de maneira que todas as semelhanças que existem entre eles,  são  negadas.  A capacidade de negação da humanidade de uma outra pessoa advém da necessidade de colocar nesse outro,  independente e apesar de quem é esse outro ,  um motivo para destruí-lo.   E a cada tentativa do protagonista de evitar a situação de litígio, parece que só piora a agressividade contra ele.

        Após o cruel episódio da morte, Cárter volta a acordar , na mesma cama que dormia na casa da namorada.  E, recordando-se do ocorrido como se fosse num   sonho, tenta não repetir os fatos que ocasionaram nele, sua morte. Mas,   mesmo assim, novos eventos levavam novamente à sua morte .  E, novamente , Cárter acorda.

        Como no “ Bolero de Ravel” a repetição, em outro tom. 

        O trauma  leva a uma repetição da situação que o provocou de outra maneira , como uma tentativa de superá-lo. Mas, nesse caso, a superação não depende de sua atitude e isso o filme nos deixa bem claro.    A violência então , eclode, não como reação à um comportamento destrutivo de Carter  mas, é  fruto de um motivo subjetivo, intrínseco à pessoa que o promove,  o que torna  difícil um  desfecho diferente.   E o trauma se firma e se fixa. É um pesadelo em  vigília. Uma angústia como todo pesadelo.  Nesse caso, sem solução. Sem possibilidade , na simples repetição de alcançar outro final. Na última tentativa de conter a violência do policial, Cárter  procura através do diálogo ,  criar a empatia que move as relações sociais humanas.  Fala de seus sentimentos, ele procura uma interação. Mas o outro, o policial,  https://youtu.be/LU8c-Nmr_lQestá fechado a qualquer tipo de interação. É frio e se mantém afetivamente distante.  A última  tentativa, vã, do protagonista de buscar um vínculo com o outro,  quando está de carona no carro do policial, revela a total falta de identificação  do policial com ele.  Como que , fechado em seu narcisismo,  este  não se reconhece na sua própria  humana imagem , e como representante da lei ( igual pra todos) , a transgride , obedecendo a força maior de seus desejos agressivos.       Grande falha da nossa mal construída  Civilidade. 






The film thus presents us with a situation where the police officer's violence against Carter is clearly out of proportion to the events.  The innocence associated with the real impossibility of the victim's defence impacts the viewer.  The unjustified death of a young man trying to get home to see his dog is shocking.  Violence that is not the result of a reaction to Carter's actions, but is triggered by his physical appearance. What is shown is the destructive force that the young man's appearance has on the white policeman who kills him.  A difference that marks out another human being, so that all the similarities that exist between them are denied.  The ability to deny the humanity of another person comes from the need to place in that other, regardless of who that other is, a reason to destroy them.   And with each attempt by the protagonist to avoid the situation of litigation, it seems that the aggression against him only worsens.

        After the cruel episode of death, Cárter wakes up again, in the same bed he slept in at his girlfriend's house.  He remembers it as if it were a dream and tries not to repeat the events that led to his death. But even so, new events again led to his death.  And again, Carter wakes up.

in "Ravel's Bolero", repetition in a different tone. 

        Trauma leads to a repetition of the situation that provoked it in another way, as an attempt to overcome it. But in this case, overcoming it doesn't depend on your attitude, and the film makes that clear.    The violence then erupts, not as a reaction to Carter's destructive behaviour, but as the result of a subjective motive, intrinsic to the person promoting it, which makes it difficult to have a different outcome.   And the trauma takes hold and becomes fixed. It's a waking nightmare. An anguish like any nightmare.  In this case, with no solution. No possibility, in the simple repetition of reaching another ending. In his last attempt to contain the policeman's violence, Cárter tries, through dialogue, to create the empathy that drives human social relations.  He talks about his feelings, he seeks interaction. But the other person, the policeman, https://youtu.be/LU8c-Nmr_lQestá is closed to any kind of interaction. He is cold and remains emotionally distant.  The protagonist's last, vain attempt to seek a bond with the other, when he is hitchhiking in the policeman's car, reveals the policeman's total lack of identification with him.  As if, locked in his narcissism, he doesn't recognise himself in his own human image, and as a representative of the law (equal for all), he transgresses it, obeying the greater force of his aggressive desires.       This is a major flaw in our poorly constructed civilisation. 






Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MARAHAJ

Truman Show A vida em direto