M A E !

MÃE !                                      Netflix.        Português /. inglês 

Diretor:  Darren Aronofsky 

  

Roteiro: Darren Aronofsky

Ano: 2017 Americano

Indicações: Leão de Ouro, Empire Award, 

     Filme tenso, com certo suspense.  Filme é sobre um escritor famoso.  Muito simpático e amistoso, sua vida é narrada aos poucos, durante o filme.

     Se passa dentro de uma casa que está em fase de acabamentos.  Essa casa é afastada da cidade, antiga e apresenta  uma forma arredondada.  Todo o filme se passa ali dentro, como se a casa fosse o próprio mundo. Ela está numa clareira e em volta cercada por um bosque.

      Um casal mora lá, o escritor já  consagrado e sua mulher bem mais jovem que se ocupa em  finalizar a casa , tentando lhe dar um aspecto leve e natural.        Recebem inesperadamente a visita de um homem que se diz ser médico do hospital da cidade. É convidado a entrar por Him, o escritor, dono da casa e acaba passando a noite conversando com Him que sente-se muito animado com aquela visita, principalmente quando o homem lhe diz que sabe que ele é o grande escritor e demonstra grande admiração por ele. O homem passa mal e depois é  dito que está morrendo.           

       No dia  seguinte a esposa do hóspede se une a ele na casa e também é convidada por Him a ficar com eles. Veronica sente-se invadida e exposta e tenta convencer a Him a expulsar aquelas pessoas que se instalam sem muita cerimônia em sua casa. Mas o escritor sente.

 grande prazer no convívio com pessoas desconhecidas que o estimam e que demonstram grande admiração por seu talento.  Até que, a mulher hóspede, curiosa,  invade seu escritório e acaba por quebrar a  pedra de estimação de Him. Pedra essa que é  , concretamente , o que lhe coube após um incêndio nesta casa onde vivia com sua família e que  tudo foi destruído. Objeto de grande significado para ele que, então, aponta a porta para que seus hóspedes saiam, num momento de grande dor.  Esse veremos é  , de fato, único momento de dor para Him. Realmente uma perda  dolorosa. 

           Nesse momento, entram  os filhos do casal . O senhor está doente e os filhos, dois rapazes, estão discutindo sobre divisão de  herança. A  mãe ostenta sua preferência por um deles, sem nenhum pudor. E esse, torna -se o motivo da inveja e ódio do outro irmão que acaba numa briga, ali mesmo, por matar o mais amado.  Caim que não suporta a preferência por Abel. Ciúmes , inveja e ódio. Sentimentos  primários estruturantes da nossa humanidade. Sentimentos que estão protagonizados na Bíblia pela história de Caim e Abel. 

            O casal enlutado então retorna,  com seus convidados ,para o recebimento de apoio e solidariedade dos amigos que  se instalam também na casa. 

            Verônicas sofre, seu ninho de amor agora é um lugar de ninguém, público e violado. Ela se sente violada, mal tratada.  O prazer de Him com  própria  exposição fica cada vez mais evidente. Quanto mais gente chega, mais gente o olha, mais se sente amado, admirado, mais feliz e pleno . Como se o olhar do outro o fizesse sentir-se vivo e poderoso. E cheio de amor e alegria. 

            Veronica , sofre uma crise , manda todos saírem, a invasão daquelas pessoas torna-se insuportável. Perder sua privacidade por completo lhe  faz viver o mais alto grau de violência e desrespeito .  Verônica  decide se separar de Him.  Sente-se mal amada. Ela trabalha na recuperação da casa e cozinha e cuida de Him para que ele possa criar , escrever. Mas ele não consegue trabalhar . Ele é  como um parasita atrelado a ela.  Não há desejo entre eles, não fazem sexo. Apesar de falar com muita delicadeza é  ao mesmo tempo frio.  Quando Him percebe que vai perde-la então se transforma,  e  faz amor com ela. Veronica engravida , sente isso no dia seguinte. Como se fosse a maternidade um destino muito desejado, quase inexorável da natureza. A procriação como o fim humano. 

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           Him também fica fértil. Um impulso de criação o toma.  Him escreve um livro de poesia. Poesia a mãe das artes. A  maior expressão da capacidade de criação  humana. Já o sabia Heidegger .  E rapidamente  mostra ao mundo, a sua editora.   Sua criação nasce antes de seu filho com Veronica. 

          Em breve sua casa está já cercada pelos fãs.  O sucesso de seu livro traz uma multidão para sua casa. O que lhe dá claramente muita alegria e satisfação.  Ele entrega sua casa , seu corpo para adoração como se fosse um ser para o amor divino. Sente-se divino, perfeito.  Ele precisa das visualizações  do outro para ser alguém, para se sentir vivo.   Ele não se sente vivo, sente-se vazio, frio, pois não tem em si a capacidade de amar, de se dar. Ele é indiferente a tudo que não se refere a si mesmo. Percebe-se no relacionamento com sua mulher.   Sua casa fica cada vez mais cheia pois é essa a necessidade  de Him. Muitos seguidores, adoradores.

         Dentro de sua casa que representa o mundo, não à toa é circular, tudo acontece. Como na vida , no mundo. Guerras , disputas, apoiadas na ganância e no ódio. Como  um breve trailer sobre a historia do mundo é passado ali frente aos nossos olhos. Nosso mundo é  uma história de guerras, de ganância e de  dominação. Para decepção daqueles que nos querem ver divinos, perfeitos, nossa civilização  é  fruto muito mais de sangue do que gostaríamos de crer na nossa vã filosofia. O ser humano traz em si uma contradição. A arqueologia nos diz que nossa espécie permaneceu no mundo pois somos seres fundamentalmente sociais e colaborativos entre nós. Sem dúvida ,  e tudo estaria bem se não tivéssemos , ao mesmo tempo , na nossa natureza uma selvageria que necessita dominar não só os outros animais mas principalmente a própria espécie.   Homem Lobo do homem. Somos ainda por cima antropofágicos .  É a complexidade humana. Freud descreve a violência e o ódio humanos num texto muito bonito que faz em resposta à uma carta de Einstein  : “ O Porquê da Guerra”.  Claro que pra nossa, igualmente não tão pequena vaidade, gostaríamos de pensar que a nossa história fosse  muito mais construção de conhecimento do que de violência.  

         As pessoas permanecem ali apesar de toda a violência que surge entre eles pois,  são atraídos pela idealização que fazem de Him. Não podem se afastar dele.  Sobre esse aspecto do líder, Freud tem outro texto muito bom que fala sobre: “ Psicologia de massa do fascismo”. E por lá ficam pra desespero de Veronica que tem de se trancar no quarto para conseguir ter seu momento e espaço para seu parto.  Um momento de paz. Ali nasce seu filho. Ela percebe já como Him, precisa do outro , e isso lhe dá medo. Ela entende então, o perigo que seu filho corre. E, entende que aquelas pessoas estão ali por desejo de Him, para preserva-lo  , garantir seu lugar, sua vida , seu renascimento. 

         Him consegue entregar a eles seu filho para que canibalísticamente, como é próprio da natureza humana, seja eliminado de forma que este não venha ocupar seu lugar de filho. amado. Assim como na nossa mitologia encontramos Cronos, que devora seus filhos.  

             Lugar esse que ele recupera arrancando o coração de quem o ama , como já havia feito com o coração de sua mãe.  O amor de sua mãe,  que é o que lhe dá a possibilidade de sobreviver. Única coisa que lhe restou de sua família , de sua casa, o amor que no caso é  um coração concreto, cristalizado e visível,  de sua  mãe.  Esse coração concreto é eterno e a garantia de que nada do que faça lhe fará  correr  o risco de perder o afeto de sua mãe. Ela nunca o desaprovará. Sonho de todo aquele que não tem em si a capacidade de doação, de amor. Mãe idealizada. Uma mãe que sempre amará  seu filho não importa quão destrutivo ele possa ser , até mesmo pra ela. 

 MOTHER!

Director: Darren Aronofsky 

  

Screenplay: Darren Aronofsky

Year: 2017 USA 

Nominations: Golden Lion, Empire Award, 

     Tense movie, with a certain amount of suspense.  The film is about a famous writer.  Very nice and friendly, his life is narrated little by little throughout the movie.

     It takes place in a house that is being finished.  The house is far from the city, old and has a rounded shape.  The whole movie takes place inside, as if the house were the world itself. It's in a clearing and surrounded by woods.

      A couple live there, a well-established writer and his much younger wife, who are busy finishing the house, trying to give it a light and natural look.  

      They are unexpectedly visited by a man who claims to be a doctor from the town hospital. He is invited in by Him, the writer who owns the house, and ends up spending the evening talking to Him, who is very excited by the visit, especially when the man tells him that he knows Him is the great writer and shows him great admiration. The man falls ill and is later told that he is dying.           

       The next day the guest's wife joins him in the house and is also invited by Him to stay with them. Veronica feels invaded and exposed and tries to persuade Him to expel those people who have so unceremoniously taken up residence in her house. But the writer feels

 great pleasure in living with strangers who esteem him and show great admiration for his talent.  That is until a curious woman guest breaks into his office and ends up breaking Him's pet rock. This stone is, in fact, what he got after a fire in the house where he lived with his family destroyed everything. It is an object of great significance to Him, who then points to the door for his guests to leave, in a moment of great pain.  This is, in fact, Him's only moment of pain. It really is a painful loss. 

           Just then, the couple's children enter. The master is ill and the children, two boys, are arguing about the division of inheritance. The mother unashamedly flaunts her preference for one of them. This becomes the reason for the envy and hatred of the other brother, who ends up in a fight right there, killing the one he loves the most.  Cain can't stand his preference for Abel. Jealousy, envy and hatred. Primary feelings that structure our humanity. Feelings that are represented in the Bible by the story of Cain and Abel. 

            The bereaved couple then return, with their guests, to receive the support and solidarity of the friends who have also moved into the house. 

            Veronica suffers; her love nest is now a no-man's land, public and violated. She feels violated, badly treated.  Him's pleasure in his own exposure becomes more and more evident. The more people come, the more people look at him, the more he feels loved, admired, happier and fuller. As if the gaze of others made him feel alive and powerful. And full of love and joy. 

            Veronica suffers a crisis, tells everyone to leave, the invasion of those people becomes unbearable. Losing her privacy completely makes her experience the highest degree of violence and disrespect.  Veronica decides to separate from Him.  She feels unloved. She works on the house and cooks and takes care of Him so that he can raise her and write. But he can't work. He's like a parasite attached to her.  There is no desire between them, they don't have sex.He realizes he's going to lose her, so he transforms himself and makes love to her. Veronica MOTHER! pregnant and feels it the next day. As if motherhood were a longed-for, almost inexorable destiny of nature. Procreation as the human end. 

           Him too becomes fertile. A creative impulse seizes him.  Him writes a book of poetry. Poetry is the mother of the arts. The greatest expression of the human capacity for creation. Heidegger already knew this.  And he quickly shows it to the world, to his publisher.   His creation is born before his child with Veronica. 

          Soon his house is surrounded by fans.  The success of his book brings a crowd to his home. This clearly gives him great joy and satisfaction.  He gives up his house, his body for worship as if he were a being for divine love. He feels divine, perfect.  He needs the visualizations of the other to be someone, to feel alive.   He doesn't feel alive, he feels empty, cold, because he doesn't have the capacity to love, to give of himself. He is indifferent to everything that doesn't concern himself. This can be seen in his relationship with his wife.   His house gets fuller and fuller because that's what Him needs. Many followers, worshippers.

         Inside his house, which represents the world - not for nothing is it circular - everything happens. Just like in life, in the world. Wars, disputes, based on greed and hatred. A brief trailer about the history of the world is played before our eyes. Our world is a story of wars, greed and domination. To the disappointment of those who want to see us as divine, perfect, our civilization is the fruit of much more blood than we would like to believe in our vain philosophy. The human being is a contradiction in terms. Archaeology tells us that our species has remained in the world because we are fundamentally social and collaborative beings. No doubt about it, and everything would be fine if we didn't have, at the same time, a savagery in our nature that needs to dominate not only other animals but, above all, the species itself.   Man's wolf. We are also anthropophagous.  This is human complexity. Freud describes human violence and hatred in a very beautiful text he wrote in response to a letter from Einstein: "Why War".  Of course, for our own not-so-small vanity, we'd like to think that our history is much more about building knowledge than violence.  

         People remain there despite all the violence that arises between them, because they are attracted by the idealization they make of Him. They can't get away from him.  Freud has another very good text on this aspect of the leader: "The mass psychology of fascism". And they stay there, much to the despair of Veronica, who has to lock herself in her room in order to have her moment and space to give birth.  A moment of peace. Her son is born there. She realizes how much Him needs the other, and that frightens her. She understands the danger her child is in. And she understands that those people are there because of Him, to preserve him, to guarantee his place, his life, his rebirth. 

         Him manages to hand over his son to them so that, cannibalistically, as is human nature, he can be eliminated so that he doesn't take his place as a beloved son.

son. Just as in our mythology we find Kronos, who devours his children.  

       This place he regains by ripping out the heart of the one who loves him, as he had already done with his mother's heart.  His mother's love, which is what gives him the chance to survive. The only thing he has left of his family, his home, is his mother's love, which in this case is a concrete, crystallized and visible heart.  This concrete heart is eternal and guarantees that nothing you do will make you risk losing your mother's affection. She will never disapprove of you. The dream of anyone who doesn't have the capacity for self-giving, for love. An idealized mother. A mother who will always love her son no matter how destructive he may be, even to her. 

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