ALI NO QUEENS
ALI NO QUEENS
Diretor: Lucky Kuswand
Ano : 2021
Indonésia
Roteirista: Ginatri. S. Noer
Esse filme começa com a morte do pai de Ali. Um rapaz da indonesia que se separa da mãe aos 3 anos e é criado pelo pai. Revendo os papéis de seu pai ,acaba descobrindo cartas de sua mãe, que acreditava morta. Ela ainda mora em Nova York e encontra as passagens que ela havia mandado para ele e seu pai, há muitos anos atrás.
Ali tem boas recordações dela, desenhos seus e filmagens demonstram todo amor e carinho do relacionamento. Feliz , com a possibilidade de reencontra-la, decide alugar a casa que herdou e ir à sua procura, em Nova York, com endereço que ela havia mandado na época das passagens.
Depois de tanto tempo, o esperado é que ela não morasse mais lá. Encontra , porém uma mulher da indonésia que a conheceu. Esta, havia dividido esse mesmo apartamento com sua mãe . Tinha ainda alguns pertences de Mia, mãe de Ali, inclusive um de seus desenhos de criança. Ali, então, é convidado a se hospedar lá por um valor bem caro, após a promessa de que o ajudariam a encontrá-la. Junto a esta conhecida de sua mãe moram mais três mulheres, também da Indonésia, que dividem além do apartamento, o desejo de abrir um restaurante. Claro, indonésio.
Ali , com ajuda das anfitriãs, encontra sua mãe em um bairro distante e muito bonito. Faz uma comida que sabia ela gostava e foi à sua casa. Um garoto de uns 7 anos abre a porta . Mia aparece e o reconhece mas finge que não. Ela sente medo. A dívida do passado volta para cobrar a responsabilidade que havia decidido ignorar . Assustada, fecha a porta. Como se pudesse assim encerrar e esquecer sua vida passada. Ali , decepcionado vai embora.
Porém volta a procura- lá e a vê saindo de casa com uma outra criança , uma menina de 5 anos. Mia então, decide falar com seu filho e lhe dá seu telefone e pede pra que ele ligue. Se encontram em um outro dia , filho e mãe conversam, se aproximam. Mia procura Ali, vai a casa que morara e onde ele está hospedado. Sai constrangida com o clima de repreensão por parte das moradoras em relação ao modo que recebeu seu filho. Mia se sente pressionada.
Mia parece que se sente como em sua juventude quando decidiu fugir de sua vida de casada e de mãe para conhecer um mundo sonhado , sentindo-se livre poderia testar seus talentos e capacidade, onde poderia só ser. Esse mundo se apresentava pra ela como ‘vida em Nova York.’ Mia havia se recusado a assumir seu marido e filho. Ainda jovem é como se tivesse se casado e engravidado por causa da pressão que o mundo das “cinderelas” no sonho infantil que se lhes é incutido , onde se encontra a felicidade completa para sempre. Mas sem entender que responsabilidades e compromissos que uma família significava. Tendo percebido o erro que cometeu ,embora tarde. Mas sua vontade de aproveitar sua juventude sem compromissos e com a vivacidade do desejo de se conhecer e procurar o lugar desejado no mundo, a faz adiar a vida, que já havia constituído. Na qual estavam incluídos seu marido e filho. Ela acaba se afastando por um tempo que foi maior do que aquele concedido por seu marido que , não conseguindo entender essa ânsia de vida, acaba por se sentir abandonado e forjando a morte de Mia, para seu filho. É assim ele cresce, acreditando que sua mãe não existia mais e a substituindo pela tia que faz essa função na sua vida.
Mas com a morte de seu pai e a descoberta de que ainda tinha uma mãe, retoma a esperança de ter a alegria de uma família sua. Porém, seu sonho é destruído quando a antiga colega de apartamento de sua mãe , lhe dá um cheque de 20 mil dólares, com pedido de Mia para que ele retorne a Indonesia. Se , antes, lhe foi poupado o abandono agora sim, sentia na pele a perda. Agora sente-se só, realmente só. Com medo e raiva culpa as amigas de apartamento, acha que estorquiram sua mãe. Precisa negar a covardia e irresponsabilidade até mesmo frieza de sua mãe. Bem, apesar do choque , acaba por superar de algum modo com a ajuda dessas tias indonésias. Ele já havia substituído uma vez sua mãe por uma tia , portanto, mesmo dolorosa a frieza dessa mãe , nada muito novo pra ele.
Esse filme traz uma questão muito inerente à condição da mulher. Historicamente existe um entendimento milenar de que a mulher foi feita pra procriar. Como se fosse um destino natural feminino. Marcado no cromossoma X, quase que algo geneticamente determinado , o chamado instinto maternal. Essa crença muito popular está na base dos contos de fadas. O encontro do príncipe encantado leva à felicidade pois que embute no processo a maternidade natural. A princesa sempre muito angelical e pura, pois nela está contida a imagem da mãe. O filme nos mostra que diferentemente disso, a maternidade real, madura responsável e comprometida é fruto do desejo. A Mia de Nova York na sua outra família , mostra -se muito comprometida. Uma família realmente desejada, esperada. É a mesma Mia, em fases diferentes. O filme consegue mostrar bem isso. Não é que mulheres frias traem sua natureza e não querem ser mães. Não . Fica claro que pode-se desejar coisas diferentes em diferentes fases da vida, ou em momentos diversos. Isso só se confirma que maternidade é fruto de desejo . E isso tanto nos homens como nas mulheres. Também nesse filme nos traz a reflexão de como os contos de fada podem criar nas meninas uma pressão social para o casamento de maternidade, que implica num desafio gerando uma ansiedade de ter de provar que tem competência de conquistar seu príncipe . E de ser mãe. A fertilidade já fez até deusas. O que leva a muitas gestações como uma resposta social da mulher.
Enfim , ao final Ali faz sua mãe amadurecer , assumi-lo e também superar a culpa que carrega há tanto tempo. Culpa que a fez querer fugir de Ali. E culpa que afinal, não era só dela pois, quando quis reunir-se à família e mandou as passagens, nem resposta teve.
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