HOMUNCULUS

Filme : Homúnculus 

Ano. : 2021.  

Diretor:  Takashi Shimizu.  Japão.  Baseado num Mangá de Yamamoto

       Esse filme nos conta historia de um experimento feito por um medico residente de grande hospital.  Este consiste em fazer um buraco na testa do paciente permitindo que  dessa forma , ele consiga ver através do olho esquerdo, fechando o direto,  deformidades e inconsistência na aparência das pessoas. Essas distorções físicas, percebidas pelo sujeito que possui o buraco na testa, são expressões de elementos inconscientes das pessoas que as portam.          Ito , o médico residente, aborda um morador de rua que mora no próprio carro. Ito o convence a participar do experimento.  Esse personagem possui uma dupla existência. Come em restaurantes caros , paga com cartão de crédito de abonados, apesar de conviver com os moradores de rua e também comer com eles.  Ito  diz que o escolheu por essa particularidade. De transitar entre 2 mundos diversos.  



         Nakoshi  concorda após a morte de um amigo, também morador de rua,  a participar do experimento.  Nesse momento opta pela vida.  Ito explica que a percepção que ele pode adquirir, com o furo na testa, é  como um sexto sentido e que tem a duração de alguns dias, apenas. 
        Nakoshi começa realmente a ver as deformidades nas pessoas, revelando a ele aspectos determinantes no modo de ser daquelas pessoas. Experiências que estavam no inconsciente delas, ocultas , porém influenciando essencialmente como viviam e sentiam. 
         No primeiro encontro, ele se vê frente a um homem que era como um robot.  Alguém muito agressivo e que ficou claro no decorrer da conversa,  que este teve uma  experiência de litígio com um coleguinha , em sua infância , que resultou na amputação  do dedo mindinho do amigo. 
         Em outro momento encontrou uma garota que buscava se relacionar  sexualmente de forma promíscua com homens, como forma de se opor à autoridade materna e paterna. Sexo na sua fantasia era como uma vingança em relação a uma mãe afetiva que demonstrava muita atenção e amorosidade. Sentia-se infantilizada com tanta dedicação e precisava sentir-se usada,  desvalorizada, como se seu corpo fosse um jogo infantil de letras e palavras vazias. Fantasia de se diluir no outro . Uma maneira de agredir quem lhe dava amor. Como se só crianças pudessem receber amor verdadeiro e que pra ser adulta tivesse de desprezar o amor de seus pais, principalmente de sua mãe.  Num confronto físico o sangue que demonstrava sua forma humana retorna a ela através de Nakoshi que lhe restaura seus sentimentos amorosos. 
           Depois dessas vivências com essas duas pessoas Nakoshi passa a ver a si mesmo , seu próprio corpo como via  o corpo deles. Ele se tornou como eles ,em parte. Em desespero procura Ito, no hospital e lá tem a visão de desfiguração no rosto de uma moça que  estava à sua frente. Fica mais desesperado ainda. Ito, então , lhe explica que se isto está acontecendo é porque ele tem algo em comum com essas duas pessoas. Seu homúnculu é parecido com o deles. E essa mulher sem rosto deve ter a ver com seu  homúnculu também.  Então, lhe mostra a foto de uma mulher que também havia passado por este experimento e  havia feito um desenho de si mesma . Seu corpo estava todo fragmentado com partes de varias formas. Completamente desfigurado.  Nakoshi iindaga como ela resolveu seu sofrimento e Ito lhe responde que ela se matou. 
          Nakoshi pede para que lhe tape o furo , para que isso cesse, está com medo.  Ito diz  que fecharia com a condição que Nakoshi  lhe dissesse qual era seu humunculu, de Ito. Ele então,  diz que não vê nada nele, mentindo.           Nakoshi decide  procurar a mulher sem rosto, ir atrás de seus fantasmas.  Revistando seu carro , encontra uma cartão com o nome de uma moça Nanako que lhe desperta alguma lembrança, em um bar.  Alguém parecida com ela, alguém que olhou pra ele e o chamou de “vazio.”  Volta ao Hospital e a encontra.  Quando pergunta se ela é  Nanako ela diz que perdeu a memória, não sabe. 



           Nakoshi começa a recordar de sua vida, retorna  a sua casa com Nanako. Nakoshi sente-se ligado a essa moça  e  pensa que  ela era sua esposa.  Dia seguinte , já é o sexto dia do furo na testa, ele acorda e não mais consegue enxergar  com o olho esquerdo, as distorções físicas incorporadas dos elementos inconscientes das pessoas antes encontradas. Logo agora que estava retomando sua vida “esquecida”, com Nanako.     

          Nakoshi vai a casa de Ito e não o encontra. O médico  não quer mais ajudá-lo e tenta convencer a Nakoshi que era tudo imaginação. Ainda , com raiva da negação de Nakoshi em lhe contar o que via nele, Ito vai a casa deste e encontra sua outra paciente que também tem furo na testa, e lhe conta seu nome , Chihiro. Essa começa a se lembrar de sua vida.                                            .       Nakoshi então  decide fazer outro furo na testa, ele mesmo , para continuar a ver as distorções de sua vida, agora.      Retornando à casa,  Chihiro já sabe que não é Nanako.ela se lembrou de quem era e porque havia se esquecido de si mesma.  Então ela lhe conta que matou Nanako, ela se lembrou. 
          Chihiro conseguiu se lembrar do acidente de carro que ocasionou a morte de seu namorado e na morte de Nanako. Ela havia discutido com seu namorado e tentou sair do carro abruptamente, e,  ao mesmo tempo que Nanako veio correndo e acabou atropelada,    enquanto tentava fugir de Nakoshi, também num momento de discussão com ele. 
           O sofrimento   decorrente da  culpa escondida no inconsciente  de ambos , aflorou.  Afinal  puderam sofrer a perda e a culpa . Nakoshi recupera sua antiga identidade. Era vendedor de seguros e sua especialidade era avaliar. Preço das pessoas que procuravam um seguro. Era bem sucedido economicamente. Nanako havia feito um aborto ele descobre no dia do acidente que a matou. Ela estava infeliz, ele era um homem frio, indiferente e superficial. Se dá conta disso no momento anterior à perda de sua esposa.  E, com uma culpa irreparável, se “esquece” de si mesmo , como Chihiro também havia feito. 
           Nakoshi procura Ito e lhe conta afinal o que vê nele. Ele é feito de água e quando está agitado, borbulha. Dentro tem um peixinho dourado e vermelho. E, então, entende que aquele peixinho deveria ser do pai de Ito, animalzinho que recebia a atenção que Ito achava que não era dada a dele. A atenção que Ito queria. Ito sofre e se recorda de desenhar na sua pele escamas ,com canetinha vermelha. Ito quer ser um peixinho dourado e vermelho.  Ito não sabe o que ele realmente é. E isso fica claro com as varias aparências com que se “veste” no filme. No final ele resolve fazer um furo em si mesmo e em sofrimento sobe  até o terraço do prédio que mora. Ito não suporta a dor de não ser visto por quem ama. A falta do olhar paterno o faz indefinido na sua identidade. Parecendo,  às vezes até um boneco, pouco humano. Embora Nakoshi tenha tentado lhe fazer ver que pra ser visto  também é necessário poder enxergar  o outro.
        O filme nos mostra as varias soluções que cada um  encontra pra lidar com a culpa reprimida e também diferentes modos de reagir à consciência dessa culpa” esquecida”.No primeiro caso, foi olho por olho e dente por dente. Cortando o próprio  mindinho ele resolve a culpa com o coleguinha. Dá pra concluir pelo grito de dor que se ouve quando Nakoshi está saindo de lá e entrando no carro.    No segundo a garota retoma sua integridade e humanidade  através de  seu sangue .ela toma o próprio sangue.  Como se o sangue, a virgindade, representasse a dignidade , e libertasse  da culpa que o sexo com namorado havia construído nela. Como se o sexo significasse aniquilar seus pais. E não pudesse  mais  ser filha e ser amada por eles.  Ela volta a ter a virgindade, que no caso representa para ela, a  dignidade. 
        Enfim,  no caso de Ito, não se sabe se fazendo o furo na testa ,   ele resolve abrir seus olhos aos outros ou se vai escolher o destino de desespero da moça da imagem retaliada. Como se Ito  estivesse à beira do abismo, entre o  amor ao seu pai e culpa pela morte do peixinho dourado e  a raiva contida por tantos anos, desse pai tão poderoso e auto-suficiente (no modo de Ito vê-lo)  e que lhe bastava um peixinho pra amar..

              


           

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