A. LIVRARIA
A LIVRARIA
Filme de 2018.
Direção: Isabel. Coixet , espanhola
Prêmios: Goya de melhor direção, Goya de melhor filme e roteiro, Goya de melhor atriz .
O filme é passado nos anos 50, numa pequena cidade costeira da Inglaterra. Onde a principal fonte de produção é a pesca. Adaptado de um livro de Penélope Fitzgerald.
Conta a história de uma mulher viúva que sonha ser proprietária de uma livraria. Ela, além de gostar de ler, muito, também reconhece que esta cidade, quase uma vila, precisa de ter um lugar que possa oferecer conhecimento do mundo literário para seus moradores.
Negocia a compra de uma casa velha, pequena e ainda um empréstimo para a abertura de seu negócio. Tudo é muito difícil para uma mulher, nessa época . Enfrenta todas as desconfianças e preconceitos. Principalmente de uma poderosa mulher, muito rica que também é” juiz de paz,” da cidade. Essa faz uma festa e deixa claro que reprova a iniciativa de Florence Green e lhe fala da sua intenção de transformar o espaço, a casa que a viuva comprou, num lugar de artes para a cidade.
Essa casa está abandonada há muito tempo. Então, parece que a ideia de utilizá-la para outro fim , é apenas para impedir a iniciativa de uma outra mulher, que também traz um outro poder na cidade. O saber.
A cidade é muito pobre, as pessoas são submissas a esta senhora e sua família, que, praticamente, determinam e controlam todos os acontecimentos ali. A iniciativa de outra mulher , erudita, de alguma forma, afronta a vaidade e o poder da senhora Gramant, juíza.
Nesta cidade também mora um senhor numa grande casa. Ele é um eremita, recluso em sua casa , com seus livros, sua única companhia. Assim que abre a livraria ele pede a Florence que lhe envie alguns livros. Assim começa o relacionamento desses dois amantes da literatura. Um dos livros enviados a ele é Farenheit 451 de Ray Bradbury de 1953. Esse livro é uma ficção científica onde a humanidade resolve abolir os livros, queimá-los. Coisa que por sinal foi feita pelos nazistas , com todos os livros escritos por judeus como Freud, Einstein, etc. ( Freud quando perguntado sobre esse fato respondeu: “pelo menos estava em boa companhia.”) Os livros além de conterem informações são indutores do ato de pensar. Pensamento, nessa ficção, nem tão ficção assim, é visto como um esforço inútil, que não serve pra nada porque o que importa são os prazeres sensoriais. O agir também, é o que importa, mesmo que não se saiba bem o que se está fazendo.
O Senhor Brundish convida Florence para um chá e se diz admirador de sua coragem e se diz preocupado com as possíveis retaliações da senhora Violet Gramant. A casa de Brundish parece uma casa abandonada, como se o morador tivesse se mudado para o mundo das ideias, longe dali.
Bem, de fato , como previsto pelo sr.Brundish. a senhora Violet consegue através de seu sobrinho , parlamentar, aprovar uma lei onde casas antigas serão desapropriadas para função de espaço público a serviço de interesses da prefeitura. Como divulgação de artes. Sem, ainda por cima, nenhum acordo pecuniário . Contratou um homem que se fazendo amigo de Florence e empregado desta serviu de testemunha sobre a insalubridade do imóvel. Obviamente, uma mentira propositadamente inventada para o fim de desapropriação.
O filme retrata bem a diferença entre modos de ser de pessoas de forma quase maniqueísta. As que possuem um mundo interno rico e voltado para o progresso, o conhecimento e as outras, que só se importam com o poder e o dinheiro como a sra.Violet Gramant , o banqueiro , o advogado , e o general, apresentados como pessoas más e interesseiras e mentirosas. Este ultimo, até apresentado como bobo pois que, enganado pela mulher.
Enfim, é nesse clima de opressores e oprimidos que termina o filme. As pessoas realmente amantes da arte, da cultura , do progresso são caladas de uma forma ou de outra. Como se o poder autoritário e opressor se valesse da ignorância e pobreza das pessoas dessa vila para se manter. Esse , me parece, é o pensamento do filme. Mal e ignorância aqui estão unidos. A ignorância, condição essencial do medo , da covardia. Manter um povo na ignorância é mantê-lo no medo.
Interessante porém , é a saída que surpreende no final. A inteligência unida à coragem também pode mudar o rumo da história. E, podem existir em qualquer um , até mesmo em uma menina .
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