Filme: A SEPARAÇÃO
Filme iraniano 2012
Diretor: Asghar Farhadi
Roteiro: Asghar Farhadi
Prêmios: Urso de Ouro, César de melhor filme estrangeiro, Oscar de melhor filme estrangeiro. Globo de ouro: melhor filme estrangeiro.
O filme, além do conflito do casal em processo de separação , apresenta outro conflito entre famílias de classes sociais diferentes.
Entretanto, o filme não se detém às questões relativas às diferenças sociais óbvias . Enfatiza um comportamento generalizado, apresentado por todos os adultos.
Como se todos , de uma forma ou outra, fossem tomados por sentimentos de injustiça e de indignação. Sentimento este que suscita reações de violência e retaliação.
Todos os eventos estão sob o enfoque narcísico onde o que importa é o orgulho próprio. E portanto a atitude de raiva e retaliação.
Com exceção da mulher do protagonista , a Simin ,que quer sair desse ambiente pensando na filha . Simin quer fugir , como até é mencionado por seu marido. Simin quer romper esse círculo vicioso onde todos os eventos são experimentados de forma ofensiva , provocando rancor e criando mentiras com objetivo de ameaçar e culpabilizar. Simin apesar disso também está num embate.
Duas famílias de classe social diferente e todos sentem -se vítimas um dos outros.
Todos os eventos são vivenciados como se fossem fruto de ação de deliberada violência de uns contra outros.
O desejo de sair dali, de Simin, daquele ambiente belicoso é visto como desprezo e falta de amor pelo protagonista que , ofendido e humilhado não pode pedir pra esposa ficar, não consegue.
Da mesma forma ele não pergunta o que aconteceu para a empregada deixar seu pai sozinho. Tendo ele muitas vezes deixado o pai só. Até mesmo, quando, por exemplo, estava no juiz. E com muita raiva , claramente decidido a vingar-se da curadora, a acusa de furto de dinheiro e dessa forma sente-se justificado no uso de força para expulsa-lá da casa.
Ela por sua vez , também ofendida, acha oportuno acusá-lo de provocar o aborto de seu filho como resultado desse empurrão.
O marido da empregada/ cuidadora , pouco propenso para o trabalho e cheio de dívidas, considera todo patrão explorador e mentiroso. Trabalhou sem carteira, sem provas , para um sapateiro e foi enganado na hora de receber proventos devidos quando afastado por motivo de saúde. Situação que provoca nele muita revolta a ponto de impedi-lo de voltar a trabalhar.
Há um sentimento de indignação geral e de ofensa como se todos os acontecimentos tivessem sempre a intenção deliberada de enganar e humilhar o outro.
Até mesmo com a professora que por sua livre e espontânea vontade depôs a favor do pai de sua aluna , frente ao juiz, testemunhando sua inocência em relação ao conhecimento sobre a gravidez da empregada, comporta-se como se tivesse sido propositadamente enganada por este, após ter informação de que ele teria ouvido sobre essa gravidez .
Todos se ofendem com todos.
O marido da empregada é o injustiçado. Ficou congelado nesse papel . Não consegue sair do lugar do humilhado., claro que tinha o ganho secundário da doença , e com isso aprendeu a levar alguma vantagem, ameaçando e provocando culpa e medo. Só restava a violência.
Enfim, parece que tudo se resolve com acusação e violência. Não se consegue conversar.
E assim, também o casal em separação que se gosta mas que não podem sobre seus sentimentos.
E é esse clima de competição que predomina em todas os relacionamentos, no filme.
Quem pode mais. Quem vai ficar com a guarda da filha? Quem sofre , claro, é ela. Ela é o prêmio da competição. É disputada . Ela só quer que se fale a verdade. Ela está do lado do amor.
Filme muito atual. Nada mais comum do que a competição nessa nossa época. Apesar do filme estar situado dentro de determinada sociedade, país , religião, se propõe a fazer pensar sobre algo muito mais universal, a competição. Coisa que ocorre atualmente em toda parte.
Aspecto próprio do modo de ser humano moderno não importando as diferenças culturais.
O filme não se restringe as diferenças das classes sociais , mas mostra como está em todas as relações até aquelas ditas, de amor.
Enfim , isso acontece , de fato , em todos os países, o LOSER, é aquele que pode ser “apontado” em todos os lugares. Vivemos realmente nessa dualidade. Campeões ou Perdedores. Quem será “o demitido”.?
Muito bom filme pra nos alertar sobre isso. Todos nós estamos perdendo. Somos todos LOSERS. Nesse jogo, só há perdedores por isso não importa com quem ela ( a filha ) vai ficar, todos saem perdendo. E ela ,parece, é a única que sabe disso.
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